Por Anderson
Mace e Christian Miles
Iniciaremos
esta matéria fazendo referência ao conteúdo publicado no New York Times em 30 de janeiro de 1992
“Receptores de odor descobertos em
células espermáticas
As células espermáticas possuem o mesmo tipo de receptores de
odor que permitem que o nariz cheire, sugerindo que os espermatozoides navegam
em direção a um óvulo fértil, detectando seu perfume, descobriram os
cientistas.
O Dr. Marc Parmentier, da Universidade Livre, em Bruxelas, e
seus colegas relatam hoje na revista Nature que eles observaram evidências de
receptores de odor no tecido precursor que dá origem ao espermatozoide
adulto. Até agora, esses receptores olfativos eram ativos apenas na
cavidade nasal.
"Isso é potencialmente muito emocionante, e haverá muito
entusiasmo sobre o que isso pode significar", disse o Dr. David L.
Garbers, do Centro Médico do Sudoeste da Universidade do Texas, em
Dallas. "Eu não acho que a maioria de nós esperava encontrar esses
receptores putativos de odor nos espermatozoides". Irresistível para
o esperma.
No ano passado, Garbers e seus colegas anunciaram
que os óvulos férteis secretam um composto que, em experimentos com tubos de
ensaio, se mostrou irresistível para o espermatozoide. Os pesquisadores
especulam que os receptores recém-descobertos poderiam ser o mecanismo do
espermatozoide para reconhecer essas moléculas sedutoras, mas ainda não têm
provas de que os dois achados estejam relacionados.
O Dr. Parmentier enfatizou que seus resultados eram extremamente
preliminares e ainda não haviam sido resolvidos. "Sabemos que vimos
membros da família de receptores olfativos nos espermatozoides", afirmou
ele em entrevista por telefone. "Mas qual é a função deles neste
momento é muito, muito especulativa".
Entre os quebra-cabeças, não menos importante é o número de
diferentes receptores observados. Até agora, os pesquisadores belgas
descobriram 20 e acreditam que muitos outros estão trabalhando nas células
sexuais, uma quantidade que parece muito além do que um espermatozoide
precisaria simplesmente para rastrear seu parceiro.
"Eu
acho que isso é extremamente interessante", disse o Dr. Richard Axel, do
Instituto Médico Howard Hughes da Universidade de Columbia, em Nova York.
Em abril passado, Axel e seus colegas relataram a descoberta de
centenas de diferentes receptores de odor nas células nasais e sugeriram que a
enorme variedade era necessária para permitir que o nariz distinguisse entre
dezenas de milhares de cheiros diferentes. Descoberta acidental.
Mas a necessidade de um palato tão discriminatório
nas células espermáticas é muito menos clara, disseram os pesquisadores. O
Dr. Parmentier propôs que diferentes receptores entrem em cena em vários
momentos da longa jornada do espermatozoide, permitindo que ele capte uma
riqueza de sinais químicos que afetam sua velocidade, força e direção.
Parmentier, trabalhando com pesquisadores da Holanda e da
França, descobriu acidentalmente os receptores de esperma enquanto procurava
genes que ajudassem a controlar os hormônios da tireoide. Usando uma
técnica chamada reação em cadeia da polimerase para assustar até sombras da
atividade gênica de amostras de tecido, eles encontraram uma família de genes
receptores ativos em células germinativas masculinas, o tecido precursor que
amadurece em espermatozoides.
Após um estudo mais aprofundado, os genes pareciam inscrever
proteínas com uma forma característica de receptor, uma estrutura serpentina
que entrelaça e sai da membrana de uma célula sete vezes. A estrutura
provou ser idêntica à observada nos receptores do nariz proteínas que se
acredita ligarem-se às moléculas de odor e depois transmitem o sinal do olfato
ao cérebro.
Examinando tecidos do cérebro, fígado, rim, baço e outras partes
do corpo, os pesquisadores até agora não encontraram nenhuma outra evidência
das moléculas do olfato.
No momento, os cientistas estão tentando isolar as proteínas
receptoras do tecido testicular, para investigar exatamente qual é o seu papel
no esperma.
Se os receptores forem vitais para a capacidade do
esperma de localizar um óvulo, o bloqueio dos receptores pode impedir a
fertilização, oferecendo talvez um novo tipo de contracepção. Mas essa
possibilidade, disse Parmentier, permanece distante.”
Análise e Pesquisas – Equipe Científica da Anturius Brasil
Mace Sperm Tracker
Espermatozoide e Acrossoma
Microscópio Eletrônico
Comparando dados e fotos da morfologia do acrossoma
do espermatozoide, através de imagens em microscopia eletrônica (imagem acima) é
possível perceber que na estrutura da cabeça do espermatozoide existem pequenas
estruturas salientes.
Frente às pesquisas me arrisco a fazer
uma analogia biológica, talvez bem próxima. As Ampolas de Lorenzini que povoam
a cabeça de um tubarão e servem como sensores para sua sobrevivência. Assim
como o tubarão percebe a quilômetros de distância sangue nas águas oceânicas um
espermatozoide decodifica o “perfume” liberado pelo óvulo e parte rumo a ele em
sua jornada reprodutiva e de sobrevivência da espécie.
Anderson Mace
O que antes eram apenas especulações
sobre as possíveis funções das células olfatórias nos espermatozoides, hoje já
temos certeza de que elas guiam o espermatozoide até o óvulo, apesar de ainda
não compreendermos totalmente seu mecanismo. Sabemos hoje, que existem mais de
90 receptores olfatórios no espermatozoide, o que nos prova que nada quanto ao
surgimento da vida é tão simples quanto parece.
Christian Miles
Fiquem bem
Ilustração, tradução e texto: Anderson Mace.
Revisão de pesquisa e texto: Christian Miles.
Fonte/Créditos da matéria publicada: New York Times.
Equipe científica do Mace Sperm Tracker: Anturius Brasil.
Links das Referências: